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quarta-feira, 22 de abril de 2009

A aprendizagem tem o poder de transformar pessoas felizes e inteligentes ?

Sugiro uma reflexão sobre o processo de aprendizagem e como a Psicologia pode contribuir para responder a alguns questionamentos pertinentes a situação em que se encontra nossa atual civilização e como acompanhar as exigências de nossa evolução, projetando-a para a educação e qualificação dos recursos humanos do futuro. Algumas indagações suscitam entre nós a todo momento: Por que tanta dificuldade do nosso sistema educacional em atender crianças com “ritmos” diferentes de aprendizagem? Por que alguns brasileiros lêem mas não compreendem o que leram? Por que professores não podem tratar seus alunos como computadores que são alimentados com informações que devem ser automaticamente armazenadas e acessadas sempre que lhes for solicitado? Procurei respostas em alguns autores consagrados em nossa área, e como as informações são tantas, a ponto de serem perturbadoras; adivinhem? Resolvi começar...do começo...
Jean Piaget (1896-1980) fundamentou sua Obra através da interação do sujeito e do meio (S - M) . Auto denominou-se o Psicólogo da Inteligência e tomou por base reflexões inspiradas em suas pesquisas em biologia para sua tese de doutorado. Tratava-se de um estudo para descobrir por que uma espécie de moluscos apresentava duas formas diferentes.Através deste estudo ele concluiu que a adaptação exprime a vida, ela própria interagindo ativa e permanentemente entre sujeito e seu meio ambiente ao qual se adapta. A adaptação, enquanto processo, comportando a acomodação, contribui, então, para a autoconstrução do sujeito por autotransformações incessantes.Toda estrutura organizada, portanto, assimila em virtude de sistemas de significação anteriormente estabelecidos. Logo toda experiência que apresentar significado ao aprendiz será identificada e registrada, num processo contínuo baseado num desenvolvimento preexistente.
Assim recorre Piaget a um corpo teórico volumoso com ênfase no raciocínio e na abstração, reforçando, em síntese, a capacidade racional da inteligência.
Seguindo adiante, sem o intuito de obedecer uma ordem cronológica , veremos que G.Thomson (1939), dizia que a inteligência resulta de uma hierarquia e de mecanismos neuronais específicos. Para ele, a inteligência seria ,não um apanhado de capacidades, mas uma imensidão de conexões com estruturas inatas e ainda defendeu que tais estruturas são diferentes ,entre as pessoas, porque são devidas ao envolvimento, à educação e às experiências vivenciais. (Fonseca , 1998).
Nada há que seja extremamente bom ou extremamente mau, assim diz R.J.Sternberg (1985), o que interessa é o perfil e o papel dinâmico da inteligência ,mais do que um quociente ou uma pontuação que sempre tendem a ocultar os aspectos que interessam considerar.Ainda completa que, devido a sua complexidade, a eficácia do autogoverno mental, isto é, a inteligência , é produto de muitos componentes e só pode ser compreendida e avaliada a partir de múltiplas perspectivas.Esta analogia com um governo é utilizada de maneira didática pelo autor para fazer um comparativo entre as funções de um governo de um país e os meios que a inteligência nos fornece para governarmos a nós próprios, de tal modo que nossos pensamentos e ações se organizam de forma coerente e intencional, considerando tanto nossas necessidades internas como as do meio ambiente.
Numa visão revolucionária, H.Gardner (1985) , concebeu a inteligência em vários modos ou classes diferente, sugerindo que não há uma única inteligência , mas sim inteligências múltiplas e independentes. Ele define a inteligência como a habilidade para resolver problemas e para criar produtos que são válidos e úteis para um ou mais envolvimentos culturais.
Outra linha de pensamento, seria a de J.Bruner que considera a inteligência como resultado integrado de translações nos três sistemas de representação da realidade: ativa, iconográfica e simbólica; realidade conhecida a partir da ação, posteriormente da sua imagem vicária e, através de um processo simbólico como a linguagem.
Simplificando, para Bruner, a inteligência traduz a aquisição de processos de representação do desenvolvimento, que transcendem em termos imediatos colocando-se além da informação. Tais veículos de representação não só consubstanciam a natureza dos poderes intelectuais, como ilustram o crescimento da mente da criança, sendo este paradigma, no fundo, o fim a que se destina o processo educacional.
Conceituando aprendizagem
Assim poderíamos continuar expondo a abordagem de vários pioneiros da inteligência, porém até aqui nosso objetivo deverá ter sido atingido, sendo que com esta pequena exposição podemos tirar alguns paradigmas convergentes da inteligência e traçar um paralelo com a educação:
Valor genético --------------------- individualidade
Contexto sócio cultural ------------ mediatização
Variação energética ---------------- motivação
Perfil intra-individual ------------ diferenciação
Estádios evolutivos ---------------- construção
Processamento da informação -------- linguagem

A partir de todas estas informações podemos verificar alguns conceitos do que significa esta palavra tão utilizada e tão pouco compreendida.
Para Mora (2004):
Aprendzagem é o processo que um organismo realiza com a experiência e com a qual se modifica sua conduta. Está intimamente associada aos processos de memória. Admite modificações da plasticidade do cérebro, acreditando-se atualmente que estejam relacionadas com a atividade sináptica.
Outra definição de aprendizagem pode ser bem compreendida pela exposição feita por Fonseca (1998):
A aprendizagem é assim entendida como uma mudança de comportamento provocada pela experiência de outro e não meramente pele experiência própria e pratica em si, ou pela repetição ou associação automática de estímulos e respostas. Aprendemos como seres humanos e não como animais.
Assim, com base em todas estas informações , já percebemos que o processo dinâmico da aprendizagem, é parcialmente dependente de um contexto mutável e que se a redundância do fator indivíduo-individualidade não for considerado neste momento, todo o esforço para a evolução da espécie humana no que diz respeito a elaboração e aplicação do conhecimento estará comprometido.
A nossa evolução como espécie é um longo percurso de aprendizagem e adaptação, do ato ao pensamento e do gesto à palavra. Analisando o nível evolutivo a que chegamos, as megatendências da economia atual e a globalização da informação, podemos denominar-mos como uma sociedade cognitiva e concluir que esta estrada que trilhamos é de mão única, um caminho sem volta.
Da mais pura inteligência à inteligência artificial
Como nosso cérebro pode manejar com idéias e abstrações com tanta destreza a ponto de, com um rápido olhar, classificar a imagem de um animal peludo, com rabo curto, orelhas, pontudas e tantas outras características heterogêneas, como simplesmente um cão e assim repetir a operação com outros tipos diferentes deste mesmo animal?
Este é um processo que existe entre a percepção e a cognição chamado de classificação, isto é , determinar se o percebido pertence a este ou àquele grupo de coisas. A todo instante manejamos idéias, que quanto mais claras mais ágil será o processo de pensar sobre o que vemos e seu significado. Quando nos são apresentados conceitos que rompem a classificação aprendida anteriormente , nosso pensamento torna-se lento e trabalha com dificuldade, pois somos obrigados a evocar outra capacidade própria e aprimorada da nossa espécie que é a abstração.
Outra característica própria do nosso cérebro é a capacidade de predição, ou seja, a capacidade de predizer o resultado de acontecimentos futuros com base nos estímulos sensoriais que recebe. É, muito provavelmente, a função mais importante e mais comum de todas as funções globais do cérebro. A predição é a função suprema do cérebro , assinala Llinás (apud Mora, 2004).
Quando se trata de explicar o funcionamento do cérebro, é quase que inevitável a comparação com o computador. Realmente aparentemente o sistema obedece um processo muito parecido de entrada, elaboração, processamento e armazenamento de informações. No entanto, está muito distante desta comparação ser verdadeira e não deixa de ser uma medíocre especulação, porque por mais sofisticada que possa ser a máquina ainda lhe faltará muitos dos ingredientes que o cérebro humano possui.
Fundamental para nós, podemos considerar, são as emoções, os sentimento, as mudanças constantes de nossa estrutura íntima produzida pela aprendizagem e pela memória, e os processos de consciência em geral. Processar informações sem estes ingredientes seria o mesmo que dizer que o computador processa a informação que recebe, sem saber o que está processando em momento algum. (Mora, 2004)
Considerações finais
Estudar o mundo fantástico do conhecimento é sem dúvida uma das mais fascinantes viagens científicas que se pode fazer e o cérebro humano, de tão complexo e misterioso, revela-se para nós o mais profundo dos desconhecimentos que já tivemos. No entanto nos remetemos de volta as primeiras indagações a que fazíamos no início deste artigo a respeito do rumo que toma o processo de aprendizagem em nossas escolas, e sem a pretensão de dar respostas ou soluções definitivas, deixo aqui transcritas as palavras destes renomados autores, como uma provocação para que outros acadêmicos ou interessados no assunto possam também refletir e, quem sabe, produzir modificações significativas para nossa sociedade.
A aprendizagem é possível pela ação de um mediatizador que se interpõe entre os estímulos e o indivíduo para captar da mente do mediatizado as significações interiorizadas que advém da própria experiência de aprendizagem, para provocar nele estados de alerta, de processamento, de planificação e de transcendência, mudanças e arranjos de informação autônomos, modulando o tempo, o espaço e a intensidade dos estímulos, humanizando-os e conferindo-lhes significação, como instrumentos psicológicos mais aptos e flexíveis para produzirem soluções( respostas adaptativas) às situações-problemas ”provocadas” pela Natureza e pela Cultura.
O ser humano possuidor do cérebro que processa toda a informação, não vê, não ouve, nem percebe nada (apesar de estar rodeado e bombardeado constantemente por todos os estímulos sensoriais que o cercam), a menos que aquela informação sensorial tenha algum significado para ele. Somente diante daquilo que significa algo, a maquinária atencional do cérebro entra em atividade. É então que o cérebro se põe a trabalhar e processar a informação sensorial correspondente. Porém, se isto vai reverter em satisfação, felicidade, se vai semear idéias e frutificar em forma de ousadia, perspicácia, criatividade e sabedoria...bem isto é tema para outra dissertação!
Por enquanto agradeço a apreciação e até breve!

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